Gaza. "Estamos à beira da derrota", avisa ex-chefe da Mossad

O antigo chefe dos serviços secretos de Israel (Mossad), Tamir Pardo, acrescenta ao alerta uma certeza: as condições humanitárias na Faixa de Gaza são o "resultado direto das ações de Israel".

Cristina Santos - RTP /
Pelo menos, 93 crianças morreram à fome na Faixa de Gaza. Hatem Khaled - Reuters

Tamir Pardo faz parte de um grupo formado por ex-altos funcionários de Israel que garantem que o Hamas já não representa uma ameaça estratégica e apelam ao cessar-fogo e à libertação de reféns. "Escondemo-nos atrás de uma mentira que nós criamos. Essa mentira foi vendida ao público israelita, mas o mundo já percebeu que isso não corresponde à realidade”, defende o ex-responsável pela Mossad.
São cerca de 600 os nomes de antigos líderes da segurança de Israel, incluindo da Mossad, da Agência de Segurança Interna (Shin Bet), das Forças Armadas e do corpo diplomático. Eles escreveram a Donald Trump a pedir que pressione Benjamin Netanyahu. Os signatários não têm dúvidas que é necessário acabar com a guerra, resgatar os reféns e cessar o sofrimento de civis.

Estes antigos dirigentes defendem ainda o estabelecimento de uma coligação regional e internacional para apoiar a Autoridade Palestiniana e, após ser reformada, oferecer uma alternativa viável ao Hamas.

Yoram Cohen, ex-diretor da Shin Bet, também citado pela imprensa internacional, garante que o governo israelita está a ser controlado por uma minoria radical. O governo está a ser “conduzido numa direção irracional por fanáticos messiânicos [que] ditam a política do país”. 
Foto: Ronen Zvulun - Reuters

Por isso, este movimento que se auto-intitula “Comandantes pela Segurança de Israel” (CIS) pede ajuda ao presidente dos Estados Unidos. 
Na carta aberta divulgada esta segunda-feira lê-se que a “credibilidade [de Trump] junto da maioria dos israelitas aumenta a sua capacidade de orientar o primeiro-ministro na direção certa: acabar com a guerra, devolver os reféns, pôr fim ao sofrimento”.

Segundo o texto, os dois principais objetivos militares da guerra — desmantelar o governo do Hamas e a estrutura militar — já foram atingidos. “O terceiro objetivo, e o mais importante, só pode ser alcançado com um acordo: trazer todos os reféns de volta para casa”, destaca a carta.
A carta foi assinada por cerca de 600 personalidades de Israel incluindo três ex-chefes da Mossad, cinco ex-líderes do Shin Bet e três ex-chefes do Estado-Maior das Forças Armadas de Israel.

Um outro antigo diretor do Shin Bet, Ami Ayalon, também signatário da carta aberta, afirma que o conflito já ultrapassou os limites de uma “guerra justa” e agora ameaça “a identidade moral do Estado de Israel”. 
Foto: Hatem Khaled - Reuters

Numa declaração de vídeo, divulgada na rede social X, ele sublinha que os signatários todos juntos acumulam “mais de mil anos de experiência em segurança nacional e diplomacia” e participaram dos processos decisórios mais sensíveis de Israel.

Ainda não se sabe se Trump vai exercer qualquer tipo de pressão sobre Netanyahu. O presidente norte-americano tem mantido o apoio constante ao governo israelita. 

Ainda assim, Trump já veio reconhecer publicamente que há “fome” em Gaza, contrariando declarações de  Netanyahu. 

A ONU já alertou que a situação na Faixa de Gaza é “o pior cenário possível de fome”. Pelo menos 180 pessoas morreram de fome. Entre os mortos estão os corpos de 93 crianças.

Se quiser saber mais, veja também o trabalho da organização Breaking The Silence com antigos militares israelitas.


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